Total de visualizações de página

sábado, 17 de agosto de 2013

O PEQUENO POLEGAR - Teatrinho infantil.


O PEQUENO POLEGAR 
Comédia em três atos. 
Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett 

PERSONAGENS 
Pequeno Polegar, Indicador, Médio, Anular, Mínimo, Papão, Lenhador, Lenhadora.
Apresentação Zé carioca. 
              Zé Carioca - (aparece e saúda) - Polegar, Indicador, Médio, Anular, Mínimo... Não se alarmem, queridos amigos. Não se trata de uma lição, embora possa parecer. Já sei o que estão pensando... "Levam-nos ao teatro e aproveitam para dar-nos lições de primeiro ano." Não, meus amigos! Estes são os nomes dos heróis da comédia de hoje... Não!... Também não se trata de um desses brinquedos para bebês: "Mindinho, Seu-Vizinho, Pai-de-Todos, Fura-bolos, Mata-Piolhos. Que é do queijo que estava aqui? - O rato comeu, - Que é do rato que estava aqui? - O Gato comeu, e assim por diante, até dar sono em todos...  Aqui o boi não bebeu água nem o frade bebeu o ovo, que nenhuma galinha botou!... Mas não vamos adiantar os acontecimentos da história. Você já vão ver! Vão ver como o "Pequeno Polegar" é esperto e valente. Como volta para casa num automóvel sem gastar gasolina... Façam subir o pano! vai começar o maios espetáculo da terra.

PRIMEIRO ATO 
 Cenário : Um bosque à noite. 

Em cena: Pequeno Polegar e seus irmãos estão sentados ou deitados no chão, tristes e silenciosos. Mindinho dorme e suspira. 

                    Polegar - Indicador, suba a uma árvore e veja se alguém resolveu acender uma luz. 
                    Indicador (Levanta-se com preguiça) - Irei, embora saiba que não adianta nada... Tudo indica que ainda não é hora. 
                     Médio - vamos andando por qualquer caminho! É claro que iremos a algum lugar. 
                     Polegar - Precisamos pensar no pobrezinho do Mindinho. Está cansado e com fome. Se tomarmos uma caminho errado, será preciso voltar. Acho que o coitadinho não aguenta.

                    Anular - Você tem razão, como sempre. É melhor a gente um pouco mais!
                    Médio (apertando a cinta) - O diabo é que a fome está aumentado!... 
                    Indicador - E o pior é que já almoçamos,mas continuamos com fome!...
                    Polegar - Fiquem quietos! Se continuarem a falar vão acordar o Mindinho...
                    Anular - Mais uma vez você tem razão, Polegar! 
                    Polegar - Vou ver se avisto alguma luz... ( e sai por um momento da cena). 
                    Anular - Como o polegar é bom! Sendo quase tão pequeno como o Mindinho, e ainda cuida dele com tanto cuidado! Ele utilizou todo o seu pedaço de pão para fazer bolinhas de miolo para marcar o caminho e nem se queixa de fome!
                    Indicador - É mesmo! esqueci-me que o jejum dele é bem maior que o nosso e nem assim se queixa... 
                     Médio - E não podemos nos esquecer de que ontem mesmo ele nos salvou de sermos devorados pelas feras!
                     Mindinho (acordou justamente no momento em que Médio falou "fera" - Que é isso? Há feras aqui? 
                     Médio - Não, menino! Não precisa ter medo! Eu estou aqui para defendê-lo! 
                     Indicador - E eu também! 
                     Anular - E eu, também não? 
                     Mindinho - Mas... Onde está polegar? 
                     Indicador - Ele já vem. Foi ver se avista alguma luz que nos indique o caminho. 
                     Anular (em tom de brincadeira) - Uma luz que nos "indique..." Pode-se logo ver que é o indicador  quem está falando... 
                     Indicador - Olhe, Anular! Não me faça lembrar o que mais o aborrece que é o fato de que  você é o menos útil da família.  
                    Mindinho - Quero Polegar! Estou com medo.
                    Polegar (entrando em cena) - Estou aqui! É preciso esperar um pouco mais; está muito escuro! 
                    Anular - esperar, esperar... E se as feras aparecerem? 
                    Indicador Faz um sinal, indicando o Mindinho) - Que feras, que nada! Não seja bobo...
                     Polegar - feras? Vocês ainda estão pensando nisso? Elas já foram domesticadas e estão nos circos e jardins zoológicos! Muitas estão presas em jaulas. 
                     Mindinho - Por que estamos sozinhos aqui? Ainda não consegui entender!... 
                     Médio - Depois você saberá... Papai e mamãe...
                     Mindinho (começa a chorar, gritando) - Mamãe!Quero mamãe! Por que ela não vem me buscar? 
                    Polegar - Não chore! Agora mesmo nós vamos nos encontrar com mamãe...
                    Indicador - Eu vou outra vez ver se avisto algum sinal que nos indique se já está na hora de seguirmos. 
                    Mindinho (consolado) - Bem! Que faziam papai e mamãe? Que era que você ia dizer?
                    Médio - Papai e mamãe estão muito pobres. Não tinham mais nada para nos dar de comer e por isso nos trouxeram à floresta... 
                   Polegar (interrompendo)... para ver se encontramos uma boa fada que possa nos ajudar... 
                   Anular - No primeiro dia Polegar foi deixando pedrinhas pelos caminhos e pudemos voltar para casa. 
                   Médio - Agora não teve tempo de ajuntar pedrinhas e jogou bolinhas de pão, se sacrificou ficando sem comer nenhuma migalha... 
                  Anular - Mas, e os malvados passarinhos... 
                  Polegar - Não culpe os passarinhos; eles estavam com muita fome, coitadinhos, e comeram todas! 
                  Mindinho - Você acaba de me lembrar que estou com muita fome... Por que você deu seu pedaço de pão aos passarinhos? Agora estou com fome!... 
                  Médio - Este garoto é mesmo um tolo; não entende nada que se explica!... 
                  Indicador ( entrando agitado) - Polegar! Vi uma luz, uma luz muito brilhante, daquele lado!... (aponta na direção da luz). 
                  Polegar - Vamos embora! Depressa, Mindinho, não podemos perder tempo ( e todos se levantam e saem de cena).           
CAI O PANO 
.

 SEGUNDO ATO 
Cenário: Na casa do gigante papão. A mulher, gorda e bonachona, está cantarolando enquanto põe a mesa. Ouve uns chamados e vai abrir a porta. 

                     Mulher - Boa noite, garotos! Que querem vocês? 
                     Polegar - (falando lá de fora) - Boa noite, dona! Nós nos perdemos na floresta. Somos filhos do lenhador Manuel... 
                     Mulher - Podem ir-se embora daqui! Nunca ouvi falar dessa pessoa, nem sei onde mora. Não posso fazer nada por vocês!...
                     Polegar - Por favor, dona! Só queremos um pedaço de pão e descansar um pouco. Não encontramos nenhuma outra casas por estes lugares... 
                     Mulher - É verdade, meninos... Mas aqui nesta casa vocês correm um grande perigo!
                     Polegar - Só um pouquinho! Tenha dó de nós. Meu irmãozinho já esta desfalecido de fome e canseiras. 
                     Mulher - Então, entrem! Mas é só por uns momentos, enquanto comerem o que vou lhes dar. (Os meninos entram e a mulher faz carícias em Polegar e Mindinho, os menores do grupo). 
                     Médio - Muito obrigado, minha senhora! 
                     Anular - Digo-lhe o mesmo! 
                     Indicador - Seu ato indica... 
                     Mulher - Deixem de agradecimentos e venham comer aqui. Não façam o menor ruído, porque minhas filhas já estão dormindo neste quarto. (Aponta para a porta esquerda e leva os meninos para a direita). O cenário fica por um momento deserto, enquanto isso se ouvem vozes dos meninos e da mulher na cozinha. Pausa. Voltam todos). 
                     Mindinho - Que sopa gostosa! Nunca tomei outra tão boa em toda a minha vida! 
                     Polegar - É verdade! Além de gostosa, prova que a senhora é uma ótima cozinheira...
                     Médio - E o pão? Tão macio, tão branco e saboroso! ...
                     Anular - E que cozinha limpa, asseada! As vasilhas brilham como ouro. 
                     Indicador - Tudo indica que...
                     Mulher - Basta de elogios, meninos. tratem de irem embora. Meu marido está para chegar. 
                     Polegar - Mais uma vez, dona, muito obrigado e que Deus lhe pague... 
                      Mulher - Fiquem quietos! Calem-se! ... estou ouvindo os passos de meu marido... Meu deus! (Os garotos, como tontos, e apavorados, correm de um lado para outro sem achar onde se esconder. Afinal, cada um se esconde como pode). 
                     Papão (de fora, empurrando a porta) - Abra, mulher, que estou louco de fome! 
                     Mulher (abrindo a porta) - Entra, meu queridinho! A ceia já está pronta!... 
                     Papão - Tantos agrados me fazem até desconfiar... A ceia queimou no caldeirão e ainda quer me acalmar? 
                     Mulher - Ao contrário! A ceia está excelente, como nunca!  Sente-se. Você deve estar canado. espere, que já o sirvo... 
                     Papão (senta-se de costas para a plateia, para que não se veja a comida) - Que cheiro gostoso! É cheiro de carne humana! (Canta) 
Carne humana cheira-me aqui!
Se não a como, como-te a ti!...
                     Mulher (tremendo de pavor) -  Não, querido! É que eu assei um cordeirinho, que está cheirando apetitosamente!
                     Papão - Vamos! Quero ver esse cordeiro! 
                     Mulher (traz uma travessa, coberta) - As pequena estiveram hoje, o dia inteiro...
                     Papão  (comendo) - Não me distraias enquanto como! (Aspira outra vez, repetidamente) e canta de novo: 
Carne humana cheira-me aqui! 
Se não a como, como-te a ti!... 
                      Mulher - Não é carne humana, queridinho! São duas galinhas assadas, com molho de tomate e pimenta... Coisa finíssima!... 
                     Papão - Vejamos essas galinhas. Vamos! 
                     Mulher (traz outra travessa) - Se você tivesse visto como as pequenas estão... 
                     Papão - Já lhe disse que não converse comigo, quando estou comendo! ... (Levanta-se, limpando a boca com um avental, que havia amarrado ao pescoço) - Comi como um elefante e, entretanto, 
Carne humana cheira-me aqui!
Se não a como, como-te a ti!...
                      Mulher - Você está sonhando, maridinho! Aqui não existe carne humana...
                      Papão (viu Mindinho, de cócoras, atrás de uma cortina e o arrebata por um braço) - E esta? Não? Ah, infame!...

                      Mindinho  (gritando) - Polegar, Médio, corram senão o Papão me come! (Todos os meninos saem dos escondrijos). 
                     Polegar (delicadamente, porém com certa energia) - Tenha a bondade de soltar o meu irmãozinho! 
                     Papão - Que minúsculos bocados! Só cinco menininhos, tão magricelos!... 
                     Mulher - Magrinhos, fraquinhos, miudinhos!... 
                     Papão - Cale a boca mulher! 
                     Polegar - Senhor gigante Papão, será mais feliz praticando uma boa ação do que nos devorando. 
                     Médio - Sua esposa tem razão. estamos tão magrinhos!... Temos passado muita fome!... 
                     Anular - Pope-nos a vida, senhor gigante. Somos da mesma idade de suas filhinhas... 
                     Indicador - Permita-me indicar que é certo que lhe causaremos cólicas... 
                     Papão - Bom! Descansem por esta noite. Vamos resolver tudo amanhã. (chamando alto) - Mulher! Onde colocaremos estes pequerruchos para dormirem? 
                     Mulher - Na cama vazia do quarto das meninas. Eu lhes emprestarei camisolas e gorros que elas já não usam mais...

                      Papão - Claro! Desde que comprei para elas as coroas de ouro, não as tiram da cabeça, nem para dormir! (Os meninos entram no quarto com a mulher, que volta em seguida).
                     Mulher - Como você é bonzinho, meu maridinho, tão bonitinho!... 
                     Papão (rindo-se) - Bom, eu? !... Alegre, é o que você quer dizer. Amanhã eu vou almoçar esses meninos, esses "camundongos"... (As últimas palavras ele as disse em voz baixa, para que as crianças não as ouvissem. Saem a mulher e o marido. O cenário fica deserto, à meia luz. Pausa. Logo depois volta o Papão brandindo uma enorme faca e entra no quarto). 
(Papão dirige-se até as crianças, mas, no momento que ia degolar a primeiro, para repentinamente)...
                      Papão (sai do quarto limpando a faca. fala em voz baixa) - Que boa coisa ia eu fazer! Se não fossem as coroas de ouro, eu teria me enganado e degolado minha próprias filhinhas... Agora, com as cabeças cortadas, esses meninos já não poderão enganar-me .... (Entra novamente  no quarto). 
                     (Pouco depois saem Polegar e seus irmãos.)
                     Médio - (Em voz baixa, mas bem audível) - Que boa ideia você teve Polegar! Mudando nossos gorros com as coroas de ouro das filhas do gigante Papão, você nos salvou a vida!... 
                     Anular - Ele, às apalpadelas, no escuro, pensou que nós eramos as meninas, e lá se foi para a cama das filhas... 
                     Polegar - Vamos fugir, o mais depressa possível! (Saem todos, pé-ante-pé...) 
CAI O PANO 
.
Cenário: Na Floresta. Os meninos, alegres, sentam-se para descansar. 
                    Indicador - A cor do céu está indicando que daqui a pouco vai amanhecer. |Já está começando a clarear no levante. 
                    Anular - Indicador sempre indicando.... Nasceu exclusivamente para indicar!... 
                    Médio - Graças a Deus, escapamos do gigante! 
                    Polegar - Mas ainda não estamos completamente fora do seu alcance... 
                    Mindinho - já não aguento mais correr. O melhor é a gente se esconder em algum lugar. 
                    Polegar  (assustado) - Não estão ouvindo passos? Passos pesados!... Alguém vem aí  perto ... 
                    Médio - Será que é o gigante? 
                    Indicador - O ruido compassado dos pés indica... 
                    Anular - deixe de indicações! Estamos ouvindo passos largos e pesados...
                   Mindinho (começa a chorar) - O gigante vem vindo, o gigante vem vindo!... 
                   Polegar - Escondam-se todos! Depressa! É mesmo o gigante Papão!...  (escondem-se no meio de umas moitas. Chega o gigante esbravejando de raiva.) 
                    Papão - Patifes, malandros! Onde terão eles se enfiado que não consigo achar?  Não podem estar muito longe!... Ufa! Estou exausto! Vou descansar um bocadinho! Afinal, por mais que eles corram, eu, com minhas botas de sete léguas, os alcançarei.... (ali mesmo deita-se no chão e começa a roncar. Não demorou muito e saíram da moita Polegar e Médio; tiraram as botas do gigante e voltaram a esconder-se. O Papão desperta). 



                     Papão (bocejando) - Bom! Já estou um pouco mais disposto. Agora devo novamente correr atrás daqueles patifes fujões. (Corre, mas tropeça numa pedra e só então vê que está descalço) - Mil raios os partam! trovejou o gigante com rava. (Dá alguns pulos. a rodopiar numa perna só, gemendo e  segurando a outra).  - Quem me roubou as botas? Minhas famosas botas de sete léguas, as únicas no mundo! Se pego esse ladrão, como-o com molho de tomate e pimenta, seja lá quem for, até mesmo se for rei ou princesa... (Sai andando tropegamente. Tudo lhe machuca os pés descalços. Desaparece. faz-se pequeno silêncio. Saem Polegar e os seus irmãos.) 
                     Mindinho - Nem sei como pude segurar uma gargalhada! 
                     Médio - E eu? tapei minha boca para não desatar a rir... 
                     Polegar - Vocês não estão reconhecendo este lugar?
                     Anular (inclina-se e ergue alguma coisa do chão. Todos o rodeiam,curiosos) - Olha! O pequeno pente de nossa mãe. 
                     Indicador - Isto indica que .... 
                     Médio - Vem vindo gente aí! Estou ouvindo passos... 
                     Polegar - Vamos nos esconder, para vem quem será... (Escondem-se e entram em cena o lenhador e a lenhadora.) 
                      Lenhadora - Por que você me trouxe a este lugar? Foi aqui que vi meus filhos pela última vez! 
                      Lenhador  - É bem possível que agora sejam muito mais felizes e não tenham mais que passar fome... 
                      Lenhadora - Quem poderá garantir isso? Mas eu não posso me esquecer deles! Meu Mindinho, tão pequeninho! Meu Anular, tão comportadinho! e o Indicador, sempre indicando! o meu Médio, tão seriosinho! e o meu Polegar , Ah! o meu polegar, tão esperto e inteligente! Pobre filhinhos!... Por onde andarão?... 
                      Lenhador - Deixe de choramingar, mulher e vamos trabalhar, que é melhor. O inverno está chegando e precisamos guardar mais lenha. 
                      
                     Lenhadora (triste) - Onde estarão meus querido filhinhos? 
(nesse momento, os meninos saem do esconderijo; polegar carrega consigo as botas de sete léguas que tirou do gigante. O primeiro a avista a mãe é o Mindinho.)
                     Mindinho - Mamãe! Aqui estamos, mamãe! (Todos se abraçam alegremente.) 
                     Lenhadora - Onde estavam vocês? De onde vieram, assim tão rápido?  Que alegria, meu Deus! Porém, como vamos fazer para sustentá-los? Somos tão pobres!... 
                     Médio - Nós também trabalharemos, ora essa!
                    Lenhadora - Como irão trabalhar, se vocês ainda são tão pequeninos!... 
                    Polegar (mostra as botas de sete léguas) - Com isso aqui, mamãe! Poderei trabalhar como menino de recados. estas botas andam sete léguas a cada passo! 
                    Lenhador - Incrível! Vai mais depressa que qualquer correio! Amanhã faremos uma experiência com elas...

                    Indicador - Isto indica que... (Levanta o dedo "fura-bolos"  e todos se põem a rir.) 
                    Polegar - E aqui acabou a nossa história!..... 
                                                              DESCE O PANO 
                                                                  
                                                                        F I M 
LEIA TAMBÉM >> EDUCOPÉDIA LITERATURA
                     

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES- Teatro Infantil


A BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES 
ADAPTAÇÃO: Nicéas Romeo Zanchett 
Tragicomédia em três atos e um prólogo 
PERSONAGENS 
Branca de Neve, a Madrasta e galhardo (Príncipe), os anões, um caçador. Aprezentado por Pinóquio.
CENÁRIO 
Palco e pano de fundo.
.
Prólogo 
    Pinóquio (adianta-se e saúda a plateia. falará com voz eloquente de orador de circo e largos gestos) 

                    - Gentis damas e nobres cavalheiros, foi-me concedida a honra de vir à vossa presença para apresentar-vos os personagens da tragicomédia de todos os tempos: "Branca de neve e os sete anões". Passará perante vos a cândida Branca de Neve, tão alva e tão pura como pétala de camélia, simples e bela como o lírio, com seu sorriso de ouro e seu coração de mel. Vós estremecereis de ódio ante a crueldade de sua perversa madrasta; rireis bastante com as engraçadas passagens dos anõezinhos e daqui saireis contentes, satisfeitos, vendo como a bondade venceu a traição, como a inocência triunfou sobre a malícia e a astúcia... (leva uma das mãos à boca, desapontado, olhando para todos os lados). Desculpai-me!... Eu me enganei... Julguei que estava falando a pessoas adultas... Por isso eu me exprimia em tom muito sério... Enfim falarei de novo. (Em tom muito mais enfático) Queridos meninos e meninas! ( Encolhe os ombros e faz um gesto de resignação). Bem!... Já ouvistes o que era preciso. (retira-se precipitadamente). 
   PRIMEIRO ATO
Cenário: Um bosque, à noite.
Em cena: Branca de Neve e o Caçador
                Branca de Neve - Para onde me levas? Vê! Começa a escurecer e este bosque está muito longe do palácio. Quero voltar!
                Caçador - Não, queridinha, vamos um pouco mais adiante. Eu sei onde se encontram gostosas amoras!  
                Branca de Neve - Estou cansada. Não posso mais. E pensar que temos de voltar a pé!  
                Caçador (pegando-lhe a mão) - Vamos, não sejas preguiçosa!  Com mais um pequeno esforço chegaremos. 
                Branca de neve - Estás trêmulo! Por que? 
                Caçador - Ai de mim! 
                Branca de Neve - (ofegante) - Que te aflige? 
                Caçador - Nada, menina!... Arrependo-me de ter prometido o que prometi... És tão boazinha!
                Branca de neve - Prometestye fazer-me algum mal? A quem o prometeste? 
                Caçador - Sim. Eu prometi matar-te! 
                Branca de Neve - Matar-me? Por que? Acaso te causei algum mal? 
                Caçador - A mim não.; Foi a rainha que...
                Branca de Neve - Ai de mim! A rainha, a malvada? Estou perdida! Diz-me tudo, diz-me!
                Caçador - Não posso, não! Vou deixar-te aqui no bosque. Não faltará uma alma caridosa que te proteja. Direi à rainha que estás morta. 
                Branca de Neve (alegremente) - Obrigada, obrigada! Agora volta de pressa, para que a cruel rainha não mande alguém à tua procura. 
                Caçador - Adeus. Não tenhas medo. Neste bosque não existem lobos. Matarei no caminho uma corça, mancharei de sangue minhas vestes e levarei à rainha o coração do animalzinho, dizendo-lhe que é o teu. 
                 Branca de Neve - Oh! Muito obrigada! Adeus, adeus... (Vai-se o caçador, Branca de Neve senta-se para descansar; mas, pouco a pouco, lhe vem o sono e adormece. Permanecerá em cena, assim, alguns momentos. A seguir, aparecerão os anões, conversando e rindo. Ao verem a menina, ficam mudos de espanto. Rodeiam-na e tocam-na delicadamente com as mãos carinhosas, para não despertá-la). 
                  

                  Dengoso - É cabelo, não é ouro!
                  Atchim (dando um espirro: Atchim!...) - São cabelos de ouro!
                  Feliz - É feita de carne! E está gelada!
                  Dunga - Ora essa! É claro! A carne é fria quando sai da neve...
                  Mestre (barulhento) - Com é linda! Bonita toda a vida!...
                  Atchim (espirrando outra vez) - Vocês são uns tolos!
                  Zangado - Cuidado com tanto barulho! Vocês vão acordá-la! 
                  Soneca (como é mudo, limita-se a tocar as vestes, os sapatinhos e os cabelos da menina, contemplando-a embevecido). 
                  Atchim (dando um terceiro espirro) - Querem que esta bela menina passe a noite aqui, para que as feras venham devorá-la? Que bobos Deus me deu para irmãos! Vamos despertá-la para que se vá embora...
                   Dengoso - Terá casa a coitadinha?
                   Dunga - Mão! Não! Quem sabe é uma criança abandonada ou mendiga? As mendigas que se prezam andam sempre assim: trajes de passeio, sapatinhos amarrados com laços e uma estrela de ouro nos cabelos... 
                  Mestre - Que coisas engraçadas estas dizendo...
                  Atchim - Que engraçadinho! Vá ser palhaço no circo! 
                  Feliz - vamos ao circo? 
                  Atchim - Que estupidez!...


                  Branca de Neve - (acorda e olha admirada os anões) - Quem são vocês e que querem de mim? (Falam todos ao mesmo tempo, em diferentes tons, sem que seja possível entendê-los. Branca de Neve tapa os ouvidos), Não!, não! Não posso entender. Fala um de cada vez. Vamos ver, fale você primeiro (a Dunga). 
                  Dunga - (Fica embaraçado e não sabe o que dizer) É, pois é... você saberá.... Nós todos.... (os anões tornam a falar a um tempo). 
                  Branca de Neve - Não entendo! Assim é impossível. Fale você! (dirigindo-se a Soneca).
                  Soneca - (dá a entender, por sinais, que é mudo. Recomeça o vozeirão, todos falam...) 
                  Branca de Neve - Vocês acabam me deixando louca!... Fale um só, ou voltem pelo mesmo caminho por onde vieram até aqui.  
                  Zangado - Sou eu que vou falar! Nós todos somos uns anões honrados e trabalhadores. E você? Que está fazendo aqui?
                  Branca de neve - (Fica um pouco indecisa, mas responde) Eu?... Eu sou mendiga! 
                  Dunga - Eu não lhes disse? Estão vendo? 
                  Branca de Neve - Sou uma pobre menina que procura trabalho. Sei fazer todos os serviços domésticos. Se souberem de alguém que esteja precisando de uma criadinha... (Os anões entreolham-se e cochicham uns aos ouvidos de outros, conferenciando baixinho)
                  Atchim - (contendo novo espirro) Você sabe fazer sopa de lentilhas? 
                  Branca de Neve - Sei, como não? 
                  Zangado - Sabe remendar calças? 
                  Branca de Neve - Sei, sim! 
                  Mestre - Sabe fazer torta de maçãs? 
                  Branca de Neve - É a coisa mais fácil deste mundo!
                  Feliz - Sabe cantar e dançar? 

                  Branca de Neve - um pouquinho... (Começam todos a falar ao mesmo tempo) - Meu Deus! Que dizem vocês? Não entendo nenhuma palavra! (Os anões dão-se as mãos, formam uma grande roda em torno da menina, cantando e dançando com muita graça, repetindo o coro dos anões do filme, enquanto, lentamente, 
                                                               DESCE O PANO 
.
SEGUNDO ATO 

 Cenário : A casinha dos anões.
Em cena: Branca de Neve e o Mestre
(A menina põe numa cesta o almoço dos anões, enquanto conversam).

                 Mestre - Você quer dizer-me, irmãzinha, por que nos dias em que é minha vez de levar o almoço, nunca temos torta de cerejas? 
                 Branca de Neve - Não tem graça, não? É porque você comeria toda a torta no caminho...
                  Mestre - Acha que sou capaz disso? 
                  Branca de Neve - Ora se não é! Claro! Por que você quer que eu faça torta de cerejas justamente na sextas-feiras? 
                   Mestre - Pois você vai ver... 
                   Branca de neve - Não verei nada, seu finório! (ambos riem) - Está pronta! (E dá a cesta a Mestre) Depressa, ande! Já é tarde e tenho muito a fazer. 
                   Mestre - Não quer dançar um pouquinho comigo?...
                   Branca de neve - Só se estivéssemos doidos! Imagine se posso dançar quando tenho um montão de roupas para lavar? Que está pensando? 
                   Mestre - Você é uma encantadora formiguinha, porém estou com medo de que exagere e fique muito formiga, trabalhando demais... 
                   Branca de Neve (empurrando-o com brandura até a porta). - Vamos! A caminho! É tarde, seu molenga! 
                  Mestre - Não se esqueça de fechar bem a porta por dentro e...
                  Branca de neve - Não devo abri-la sem o sinal combinado. Sei a lição de cor. Não tenha medo. (Vai-se mestre e a menina põe-se a lavar roupa, cantando baixinho). 
                   Madrasta (gritando lá fora) - Maçãs, maçãs vermelhas, madurinhas! Destas, que vendo, não se encontram em parte alguma! 
                   Branca de Neve - Maçãs! Com que prazer comeria algumas! Há tanto tempo que não provo maçãs... Por que não hei de comprar  pelo menos uma? Como pode uma simples vendedora ambulante saber quem eu sou? (Aproxima-se da porta, abre-a e chama a vendedora) - Venha cá, vendedora de maçãs! Venha!
                    Madrasta (está tão bem disfarçada que a menina não a reconhece) - Que quer, linda menina? 
                    Branca de Neve - Quero maçã! Gosto muito desta fruta...
                    Madrasta ( astuciosamente) - O sol está muito quente! Gostaria de me refrescar um pouco à sombra... 
                     Branca de neve - Entre, boa mulher! Entre para descansar uns momentos. Quer um copo d'água? 
                     Madrasta - Que boa menina você é! Dê-me um pouco d'água bem fresquinha e eu, em paga, escolherei a melhor maçã para você, a mais doce, bela e saborosa... 
                     Branca de Neve - (sai e volta trazendo um copo d'água) - Beba, que está pura e bem fresquinha.. É da fonte do bosque, de onde verte a água mais cristalina de todos estes lugares.
                     
                      Madrasta - Tome esta maçã, coma-a agora mesmo, na minha frente. Quero ter o prazer de vê-la saboreá-la...
                      Branca de neve - Obrigada! (Leva a maçã à boca e morde-a) - Ai! Que gosto amargo!...
                       Madrasta - Que tolice, menina! É que você provavelmente já se esqueceu  do gosto das maçãs... Anda! Como pelo menos um pedaço, para experimentar melhor...
                      Branca de Neve - Ai! Estou me sentindo mal! Ai! Parece que vou morrer... (Cai no chão e fica imóvel). 
                      Madrasta - Até que enfim! Nunca mais meu espelho mágico dirá que existe outra mais formosa do que eu! ... está morta, a maldita! Aquele imbecil caçador me enganou, mas, de hoje em diante, ninguém mais me enganará, pois Branca de neve está morta e bem morta. Gostaria de ver as caras dos anõezinhos quando voltarem... (Ri maldosamente e sai. Branca de Neve continua imóvel no chão. Momentos depois, chegam os anões. Ao verem a porta aberta, fazem grande alarido e mais aumenta a confusão quando veem Branca de Neve estendida no chão, como morta. Procuram desesperadamente reanimá-la, todos se movimentam aflitos, empurram-se, dão encontrões, aturdidos e sem saber o que fazer. Nenhum deles soube fazer alguma coisa de proveitoso; era preciso uma urgente providência para salvar a menina, mas ninguém sabia o que fazer. Finalmente, já desanimados, sentam-se todos com a cabeça entre as mãos, profundamente tristes e silenciosos). 
                     Dengoso - E agora? Que vamos fazer? 
                     Todos  - Que fazer? 
                     Mestre - O remédio é chorar...
                     Dunga - É o mais indicado para casos como este...  
                     Zangado - É verdade. O melhor mesmo é chorar!... (Todos choram, em difeents tons e cada qual a seu modo). 
                     Atchim (espirrando) - Atchim!... Agora chega. Já choramos bastante. Vamos que é prático. Onde vamos sepultá-la? (Recomeçam os choros e alaridos de dor... Os anõezinhos lamentavam profundamente aquela desgraça). 
                     Zangado - Não a enterraremos... Isso não seria justo! Vamos levá-la à gruta que fica no alto da montanha, para que o sol a beije, a brisa lhe acaricie as plácidas faces e os passarinhos venham gorjear a seu redor... 
                     Mestre - Vamos chorar mais um pouco antes de irmos... (Todos se põe a chorar como crianças outra vez)...

 DESCE O PANO
.

TERCEIRO ATO 

Cenário: Gruta na Montanha. 
Em cena: Branca de Neve estendida sobre um tapete de fina relva. Depois Galhardo. 
                    Galhardo - (entrando na gruta) - Até que enfim encontro um lugar sombrio e fresco!  Bendito seja Deus! O Altíssimo fará com que nesta gruta não se encontrem animais  ferozes. Mesmo que ela fosse habitada por anjos, eu não os poderia ver nesta penumbra, pois ainda estou com a vista deslumbrada pela luz do sol. ( Senta-se numa pedra e cobre os olhos com as mãos. Depois abre-os e, só então, v~e Branca de neve) - Meu deus! Eu falava de anjos e aqui vejo o mais belo que se poderia imaginar! Quem é você, adorável criatura? Que faz estendia nesta gruta? (Aproxima-se). Está dormindo!... Meus olhos jamais contemplaram uma beleza assim! Quero ficar cego se estou mentindo... Os raios do sol invejariam esta cabeleira dourada, os jasmins a alvura destas faces... Se, assim fechados, estes olhos são os mais lindos que já pude ver e admirar, quanto serão sedutores, iluminados pelo esplendor da luz que os anima!  Muito linda devia ser minha prometida Branca de neve, para que a fama de sua formosura se conserve ainda, após um ano do seu misterioso desaparecimento do palácio da rainha. 
                    - Seria ela, porém, comparável a este anjo? Quem será esta feiticeirinha que, mesmo dormindo, cativou meu coração? Não resisto nem mais um minuto... Vou acordá-la para dizer-lhe que meu maior desejo é que desfrute, em minha companhia, o trono real que herdei de meu pai! (Com meiguice) Menina!... Minha senhora e rainha do meu coração!... Ela não acorda!... (Toca-lhe suavemente a pele do rosto e recua). Como está fria! Estará morta?!... (Torna a tocá-la). Está Morta! Ai de mim! Apaixonei-me por uma donzela que já não pertence a este mundo... Mas... Não! Não é possível que esta beldade tenha morrido justamente na hora em que a encontro... (Toma-a pelos braços e sacode um pouco) Desperte! Desperte!, rainha de minh'alma! (Banca de Neve abre os olhos, mansamente, suspira de leve e torna a si após seu longo sono). 
                      Galhardo - Eu sabia que estava dormindo!... 
                      Branca de neve - Quem é você cavalheiro? Que faz aqui? E eu, onde estou?!... (Olha em redor, admirada e sem entender o que estava acontecendo). 
                      Galhardo - Sou, quero dizer, era galhardo, senhora. Príncipe herdeiro do rei da república, mas, de agora em diante, sou somente seu escravo, minha adorada senhora!
                      Branca de neve - Além de gentil, é um cavalheiro galanteador... Mas quem procura tão longe de sua pátria?  
                      Galhardo - Ai de mim! Ando em busca da herdeira da coroa real deste país, mas não consigo encontrá-la. Há muito desapareceu misteriosamente. Mas agora não tenho motivos de queixa. Encontrei-a,Senhora, e, se quiser, será a rainha de meus país!  
                      Branca de neve - Cavalheiro! E se sua prometida for encontrada algum dia? 
                      Galhardo - Isso não acontecerá. Já não tenho a menor esperança de achá-la. E você, que fazia aqui?  Por que estava adormecida nesta gruta? 
                      Branca de Neve - Eu não dormia! Estava morta! 
                      Galhardo -  (incrédulo) Morta? ... Como morta?...
                      Branca de Neve - Sim, envenenada. Minha madrasta, invejosa, fez-me comer um pedaço de maçã envenenada. Ficou-me parada na garganta e você, com seus carinhosos modos, sacudindo-me, fz com que o pedaço de maçã saltasse fora de minha boca. 
                      Galhardo - Perdoe-me, senhora! 
                       Branca de neve - Perdão? Pois foi graças a isso que vivi de novo!... Devo-o a você...
                       Galhardo - Posso contar com sua boa vontade? Quer ser minha soberana? 
                       Branca de Neve - Não sei o que devo dizer... Se a princesa for encontrada.... (nesse momento chegam os anões e, vendo a menina são e salva, põem-se a gritar, fazendo enorme alarido, não cabendo em si de contentes e felizes). 

                      Todos os anões - Branca de neve! 
                       Galhardo - Branca de Neve ?!  Então é você? (Ela sorri, com ar travesso...) 
                       Atchim - (Depois de espirrar) Claro que é ela! Branca de Neve! E você quem é? (Nesse momento acontece um reboliço, os anões, ameaçadores, cercam o jovem príncipe. 
                       Branca de Neve - Calma! Fiquem quietos, meus irmãozinhos! Este é Galhardo, meu noivo, desde muito anos! Por sinal, um noivo muito atrevido e infiel, pois vive de namoricos com princesas que encontra mortas nas grutas das montanhas. 
                      Galhardo - Minha querida Branca de neve !
                      Branca de Neve - Galhardo! (Surge um novo reboliço. Os anões formaram uma roda em torno dos noivos, dançando e cantando). 
                                                                             F I M